Começou a 23 de Novembro de 2014 e terminou a 7 de Fevereiro de 2015: o vulcão da ilha do Fogo, em Cabo Verde, expeliu lava durante 77 dias na última erupção. Nos cálculos do geólogo José Madeira, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e do Instituto Dom Luiz, os derrames atingiram entre 100 e 125 milhões de toneladas de lava. Destruíram duas povoações, terras agrícolas, várias infra-estruturas, obrigaram ao desalojamento de cerca de mil pessoas e deixaram um prejuízo que o Governo cabo-verdiano estima em 45 milhões de euros.
Em Dezembro, José Madeira partiu para uma expedição ao vulcão do Fogo, como aliás já tinha feito na erupção anterior, em 1995. É esta experiência em primeira mão que relata esta quinta-feira na palestra Missão Ilha do Fogo – A erupção de Novembro de 2014, no ciclo de Conferências Ciência Viva, às 19h30, no Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa. Organizadas pela Ciência Viva – Agência Nacional para a Cultura Científica e Tecnológica, estas palestras de cientistas portugueses e estrangeiros, na última quinta-feira de cada mês, destinam-se a toda a gente e basta fazer a inscrição no site da Ciência Viva para ir lá assistir.
“De acordo com as observações dos colegas da Universidade de Cabo Verde, que acompanharam a erupção no terreno até ao seu final, as últimas emissões de lava ocorreram a 7 de Fevereiro, sob a forma de actividade explosiva já muito fraca”, informa José Madeira. “A actividade sísmica ainda se fez sentir até 20 de Fevereiro, mas sem qualquer emissão de produtos lávicos no intervalo entre 7 e 20 de Fevereiro. Portanto, a data de 7 de Fevereiro pode ser considerada como o final da erupção”, acrescenta. “As manifestações actuais encontram-se reduzidas a actividade fumarólica pouco intensa. Este é o processo normal após o final da actividade eruptiva.”
Em média, as erupções do vulcão do Fogo prolongam-se por dois meses, atendendo aos registos históricos. A erupção de 1995 também não fugiu a essa estatística, com uma duração de um mês e 24 dias. Desde meados do século XV, quando Cabo Verde foi descoberto e povoado, há registo de mais de duas dezenas de erupções. Algumas são referências lacónicas em livros de bordo de navios, por isso são muito mal conhecidas. A partir do século XVIII, os registos são mais completos, culminado com as erupções bem documentadas de 1951 – pelo geógrafo português Orlando Ribeiro – e de 1995.
“Os relatos escritos sugerem a ocorrência de 27 erupções em 515 anos, o que permite calcular um intervalo de recorrência de cerca de 20 anos. Isto faz do vulcão do Fogo um dos vulcões oceânicos mais activos do mundo”, assinala José Madeira.
Cratera principal do vulcão na noite de 28 de Novembro fotografada a 800 metros de distância.
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