segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

O país descobre o lugar da biomassa, calor em vez de eletricidade

É a maior fonte de energia renovável do país, mais do que a eólica. No passado, foi procurada sobretudo para a produção de electricidade, por causa dos subsídios à tarifa. No pós-troika, sinais de mudança aparecem. Vendem-se mais equipamentos para aquecimento e exportam-se mais peletes. Portugal destronou a Rússia como quarto exportador europeu. 

No ano passado, o país exportou quase um milhão de toneladas de biomassa, sobretudo em “peletes” RUI GAUDÊNCIO

Uma Instituição Particular de Solidariedade Social na zona de Guimarães investiu recentemente numa caldeira a biomassa. Tem água quente o ano inteiro para a cozinha, para a lavagem de roupa, para a higiene e para o aquecimento no Inverno e também uma factura 30% mais baixa. Muito antes, no Redondo, uma escola substituiu a caldeira a gasóleo por uma de biomassa. As hastes das vinhas que rodeavam a escola serviram como combustível, durante vários anos. Um dia, a escola fechou, os alunos foram para uma nova com gás natural e ar condicionado. Foi assim crescendo o número de escolas às quais faltou depois verba para pagar o aquecimento e cujos alunos não tiveram outro remédio senão ter aulas de luvas calçadas. 
Os casos narrados pela presidente do Centro da Biomassa para a Energia (CBE), Piedade Roberto, ao PÚBLICO ilustram a incoerência com que o país tem lidado com a sua maior fonte de energia renovável. Em 2012, a biomassa representou 13% da energia primária consumida e 6,6% da energia final - pronta a ser usada pelo consumidor -, embora este valor não inclua a biomassa transformada em calor nem em electricidade. Em termos de contributo do conjunto das fontes de energia renovável na energia primária, mais de metade (55%) tem origem na biomassa, dizem os dados da Direcção-Geral de Energia e Geologia (DGEG). É mais do que a soma da hidroelectricidade, eólica e do fotovoltaico. Apesar do lugar discreto da biomassa no ranking mediático e político, quem segue o sector e quem faz da biomassa uma actividade industrial trata-a por “ouro” e por “futuro”, especialmente a de origem florestal e agrícola. 
O país ainda não tem ainda a certeza da quantidade de biomassa florestal sólida e de base agrícola que tem disponível. Há, diz Piedade Roberto, “um chamado número mágico”, que vem do “tempo em que se perspectivava a sua utilização para produzir energia eléctrica” apenas, as chamadas centrais de biomassa dedicada. O tal número: 2,2 milhões de toneladas. O CBE tem a certeza de que é superior, dando voz ao que o sector defende. “Os números de consumo e produção pecam sempre por defeito”, devido ao âmbito muito local de utilização da biomassa e que escapa, por isso, às estatísticas.
O Centro planeia fazer um estudo sobre a “verdade do número” para a Direcção-Geral de Energia e Geologia nos próximos meses. Já não é a electricidade que marca o ritmo, mas também a capacidade da biomassa produzir calor, “a preços muito mais baixos”. E não será apenas do que a floresta dá, mas também do que as vindimas e a apanha da azeitona deixam em hastes e bagaço.

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